segunda-feira, 22 de junho de 2015

"Oposição" x "Situação"


Curiosa a conjuntura atual no Colégio Pedro II. Uma autêntica inversão de posições entre os que se consideravam “oposição” e os que se diziam “situação”.

Antes, a “oposição” lutava pelo respeito às diferenças ideológica e política. Hoje negam o contraditório e a legitimidade dos que não comungam de suas ideologias.

Assim, donos da verdade caminharão sozinhos. Como antes caminhavam os que se diziam “situação”.

“Oposição” x “situação”, “esquerda” x “direita”, PT x PSDB posicionamentos que sem ideologia constituem-se mutáveis sazonalmente e sem uma política de atuação fundamentada em propósitos e metas bem definidas reduzem-se a grupamentos em busca de contradições e julgamentos comezinhos do outro. Isto para um dia, talvez, tornarem-se “situação” e este grupo então se tornará “oposição”.

E o círculo viciado continuará...

Porém, os movimentos de base estão em amadurecimento, rejeitando manipulações e não servindo de agulha para linha ordinária, respeitando meramente a “verdade” de seus donos.

Estes não desejam mais pagar a conta de ações beligerantes e sem causa justa.

O simbolismo da “ocupação” de uma Reitoria remete para uma inebriante sensação de “tomada de poder”. Mas este “poder” só vale pela repercussão da obstaculização daquilo que está constituído e legitimado.

Finalizo afirmando que o “poder” não mora na Reitoria.

Em democracias estáveis os pleitos eleitorais são divididos com um mínimo de margem de diferença entre o vencedor e o vencido, o que não empana de modo algum a legitimidade do pleito: pelo contrário o fortalece. Reforço, é a prática do respeito às diferenças ideológica e política.

Opor-se à “ocupação”, certamente vitimará os manifestantes. Acatar, certamente, contribuirá para o impedimento de ir e vir de diversos servidores e de seu direito inalienável ao trabalho.

Difícil, melhor seria o caminho mais requisitado pelo processo democrático – o diálogo em respeito pela imensa maioria que pensa diferente e assim obter legitimidade de ação, caso contrário só restará a estes grupos o isolamento político.

Neste caso, perder-se-á o contraditório tão precioso nas conduções de processo democrático.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Diversidade sexual e de gênero*






É muito frequente lermos em projetos políticos pedagógicos e outros documentos relacionados à Educação expressões como “criação de uma sociedade mais justa e igualitária”, “acolhimento das diferenças”, “respeito à diversidade” e etc. Essas expressões não aparecem por acaso, reconhecemos que a escola brasileira foi pensada/construída para um aluno-padrão: branco, de classe média, heterossexual, “normal” com milhares de aspas! Mobilizamos essas expressões porque reconhecemos que a escola precisa e deve ser inclusiva.


Sabemos também que o conhecimento pode referendar o status quo ou embasar a transformação da sociedade e que é na perspectiva da transformação social que o Colégio Pedro II se mantém há 177 anos. Por isso, precisamos superar o preconceito, resgatar a centralidade do conhecimento e romper com as relações de poder que produzem e reproduzem desigualdades. Mas, para que isto ocorra é necessário o aprofundamento do debate em termos mais plurais, críticos e inovadores acerca da promoção de uma cultura dos direitos. 




Assumir o compromisso político de lutar por uma educação para todos, que acolha as diferenças, que respeite a diversidade e que auxilie na criação de uma sociedade mais justa, inclui o enfrentamento de resistências e a inserção na agenda institucional de temas que, por vezes, nos tiram de nossas zonas de conforto.

É nessa perspectiva que inserimos em cada aula inaugural um tema ligado à diversidade, porque, como Boaventura de Souza Santos, sabemos da urgência “de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades". 

        
                                         

Assim, em 2014, trouxemos o Prof. Dr. Kabengele Munanga para tratar das relações étnico-raciais. Este ano convidamos o Prof. Dr. Rogério Diniz Junqueira para abordar a diversidade sexual e de gênero. Entendemos que só a ampliação do conhecimento é capaz de reduzir o preconceito e as práticas discriminatórias e o momento exige uma discussão aprofundada acerca dessa temática, para que possamos construir coletivamente encaminhamentos metodológicos para essas questões no Colégio Pedro II.


*Discurso do Reitor Oscar Halac durante abertura da aula inaugural do Colégio Pedro II realizada no dia 2/3, no Teatro Mario Lago, no Complexo de São Cristóvão. O palestrante foi o pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) Rogério Diniz Junqueira, que falou sobre o “Cotidiano escolar, currículo e heteronormatividade: desafios para uma educação de qualidade para todos”.